Percepção e Realidade
Desde pequenos, possuímos necessidades e prazeres, preferências e temores com base naquilo que nos acostumamos a ver, vivenciar e até mesmo desejar. O sentido visual nos permite conhecer o mundo, desde nossa infância porém, não nos damos conta que este pode ser aperfeiçoado e ampliado através de observações que nos passam despercebidas, podendo de certa forma, serem modificadas de acordo com nossas vontades.
“Visualizar é ser capaz de formar imagens mentais” (Dondis, pág.14) A nossa visão é veloz e de longo alcance por isso o seu processo não é cansativo e nem necessita de muita energia e esforço. Automaticamente, recebemos informações de todas as maneiras, parecendo muito simples e natural, assim, a capacidade de ver e visualizar torna-se normal, e consequentemente não-desenvolvida.
A maioria das pessoas tem preferência pela informação visual. Por exemplo, quando recebemos uma carta de algum conhecido distante, por mais detalhada que ela seja, seria muito melhor, ao invés dos detalhes minuciosos da cena ele tivesse nos enviado em forma de informação visual., que nesse caso poderia se uma fotografia.
A experiência humana nos possibilita resgatar desde culturas primitivas, como pintura das cavernas, às tecnologias atuais, “assistindo” suas modificações.
O conceito contemporâneo “belas-artes”, também nos preserva a expressão visual. É através de produções visuais de conceituados artistas, que eles expressam sua maneira de observar e refletira sobre temas, paixões, emoções e sentimento. “A arte é apenas uma visão direta da realidade” (Henri Bérgson). Porém, muitas vezes, não possuímos a mesma visão que o artista. Ele tem a idéia principal, cria de acordo às suas emoções e vontade, já o público entende o que está de acordo á suas emoções e grau de conhecimento.
Como por exemplo, a tela acima, que tem nome: O violão, porém cada pessoa que olhará para o abstrato o verá de uma maneira diferente, pois a nossa percepção visual também diz respeito ao nosso conhecimento de mundo.
Assim como no filme visto em sala de aula, a percepção que o personagem tinha quando era cego dos objetos era uma, logo após a cirurgia e a partir do momento em que ele pode enxergar ele não reconhecia mais as mesmas coisas, pois o seu conhecimento de mundo se resumia ao tato, portanto o que ele via, ele não reconhecia.
A arte de desenhar foi trocada pela máquina fotográfica, pois esta nos mostra a imagem com extrema perfeição. É dessa forma que a fotografia exerce “poder” sobre nós. Quando uma mulher, por exemplo, vê uma roupa bonita em uma revista ou jornal, ou até mesmo um doce de aparência deliciosa, ela certamente terá vontade de possuir. E se por acaso, ela encontra o objeto desejado, ela certamente o terá.
A linguagem é essencial para o ser humano. É através dela que nos comunicamos, que guardamos imagens, transmitimos informações e idéias. A visão é lógica; Todas as pessoas criam mensagens visuais, porém somente até certo ponto, pois elas precisam de estudo e conhecimento de mundo para se aperfeiçoar.
A percepção é fundamental para o processo visual. Como nos mantemos em pé, nos movimentamos, nos protegemos... São fatores importantes para interpretar as mensagens visuais. Elas são naturais e não necessitamos estuda-las, mas podem ser influenciadas e modificadas com o tempo.
Ainda no filme é possível ver sobre a percepção do protagonista cego. Em certo momento, ele e seu “professor” vão para o bar, e este homem levanta a mão e lhe da um tapa, sendo que o personagem já não era mais cego. Isso ocorre porque ele ainda não tem essa percepção de que uma mão levantada pode indicar um tapa, porque não consegue interpretar essa mensagem visual.
Criam-se mensagens visuais, através de cores e formas, proporções. Relacionamos elementos, tem-se em vista um significado. Resulta-se na composição e intenção. Assim, com a visão, as pessoas absorvem a informação através dos olhos e do sentido da visão.
Percepção é a função cerebral que atribui significado a sensações vividas anteriormente. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Ela envolve sensações elétricas evocadas pelos estímulos nos órgãos dos sentidos. Há também os que afirmam que a percepção envolve os processos mentais, a memória e outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos dados percebidos.
Em termos gerais, a percepção é a forma de como vemos o mundo à nossa volta, é o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações. Com o passar do tempo, e as novas informação que recebemos de todos os meios de comunicação e da nossa vivencia, a nossa percepção muda. Em uma “imagem mutável” (exemplo de imagem ao lado) não é o estimulo visual que muda, mas a nossa interpretação sobre este estímulo. Ora vemos um rosto, ora vemos uma árvore.
A percepção tem início com a atenção, que resulta na observação seletiva de tais objetos, e os fatores externos (próprios do meio ambiente) e os fatores internos (próprios do nosso organismo) influenciam na nossa atenção e no desenvolvimento da nossa percepção sobre algo.
Tipos de percepção:
Percepção visual: é o ponto, entre o mundo físico e o mundo mental. A imagem se forma na mente, que é uma abstração mantida pelo cérebro para o ser vivo se adaptar ao ambiente em que vive.
A percepção das cores é um dos aspectos da percepção visual.
Compreende, entre outras coisas:
-percepção de formas;
-percepção de relações espaciais, como profundidade;
-percepção de cores;
-percepção de intensidade luminosa.
Percepção olfativa: é a percepção de aromas. É um sentido muito importante para a alimentação. A perfumaria pode ser aplicada aos conhecimentos desta percepção.
Percepção auditiva: Envolve a recepção e a interpretação de estímulos sonoros através da audição. Identificam-se algumas habilidades da percepção auditiva: a detecção do som, sensação sonora, localização, reconhecimento...
Percepção gustativa: o principal fator dessa percepção é a discriminação dos sabores.
Percepção tátil: é o sentido da pele. Permite reconhecer a presença, forma e tamanho de objetos em contado com o corpo e também a sua temperatura. Entre os fatores da percepção tátil estão: Distinguir objetos menores; percepção do calor da dor...
Conforme Dondis a mais importante influência sobre a percepção humana é a necessidade do equilíbrio. É a referencia mais firme e forte do homem. Existe um processo de estabilização imposta em todas as coisas através de um ajustamento a cada variação de peso, que se dá por uma variação de contrapeso. Sendo esta estabilização planejada através de um eixo vertical ou eixo sentido, com um referente horizontal secundário. A falta de equilíbrio e regularidade é um fator de desorientação.
O documentário “A Janela da Alma” visto em sala de aula, nos fala que os seres humanos não veem as coisas como elas realmente são, pois nos somos mediados pelo nosso conhecimento que interfere diretamente na nossa percepção de mundo. Por isso foi falado que nós vemos somente em parte com os nossos olhos.
O documentário não trata a falta da visão como algo ruim, limitador e pessimista. Muito pelo contrário, ele nos mostra a outra face, o como as pessoas conseguem se desenvolver e socializar mesmo com essa limitação. Pois cada um dos entrevistados nos da uma lição de vida diferente.
Além disto, existem cenas no documentário que a primeira vista não conseguimos e entender, são imagens fora de foco que parecem que nada ali temos para contemplar, porém são imagens que foram pensadas para serem assim mesmo, para fazer com que os telespectadores pensem no que é belo e até que ponto distinguimos o que é o ver, o enxergar.
Leonardo da Vinci nos disse: “o olho é a janela da alma, o espelho do mundo” e este documentário expressa perfeitamente esta expressão, e não é a toa que o nome dele é A janela da alma.
E é através do filme que foi visto logo em seguida com nome “A Primeira Vista” que começamos a fazer comparações sobre o nascer não enxergando e depois começar a ver o mundo de uma maneira diferente e jamais vista, e sobre como é necessário o reaprender a ver as coisas.
No documentário, as pessoas que deram depoimento, tinham alguma dificuldade de enxergar, ou perderam a visão com o tempo. É difícil imaginar como isso pode ser complexo na vida de um ser humano. Pois temos que reaprender a perceber o que está em nossa volta de uma maneira totalmente diferente. Por isso os outros sentidos do nosso corpo, como o paladar, o olfato, e principalmente o tato se tornam tão essenciais para essas pessoas.
Em suma, a visão e a percepção para os seres humanos acabaram se tornando fundamentais nos dias atuais, pois tudo é noticiado através da linguagem visual.
Bibliografia
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 2 Ed. São Paulo. 1997.
Filme: A primeira Vista, 1999, Direção: Irwin Winkler
Documentário: Janela da Alma, João Jardim e Walter Carvalho
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